quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Banalidades cotidianas

A cada dia que passa me sinto uma sobrevivente. Sou sobrevivente de uma guerra civil ignorada pelas autoridades públicas de segurança. Isso nada mais é que a consequência de muitos anos de descaso com segurança pública preventiva.
O pior é pensar que qualquer atitude que seja tomada agora para tentar deter essa onda de violência que invadiu o Pará, não terá efeito imediato, mas sim daqui há alguns anos, quem sabe na geração de nossos filhos e netos.
Belém é uma cidade cada vez mais insegura, violenta. Chegar em casa, ao final do dia, sem que nada nos tenha acontecido, é uma vitória. Maior vitória é conseguir dormir tranquilo, sem ter a sensação de que a qualquer momento um marginal, o tal esquecido pela sociedade, possa invadir nossa casa e cometer as maiores atrocidades possíveis à nossa família e, a nós mesmos.
Em Belém não existe um local seguro. Não se houve mais dizer "não ande por determinado lugar porque lá é perigoso" , isso não existe mais... e sabe por quê? Porque em qualquer lugar, seja nos bairros nobres ou nas baixadas, é perigoso. Em qualquer esquina mais próxima de sua casa pode acontecer uma barbárie, como aconteceu ontem, na esquina da casa de uma amiga que, até agora, está chocada e revoltada.
Como ela mesma me disse, teve que tirar, às pressas, o sobrinho pequeno da janela do apartamento onde moram, se jogando no chão, porque um tiroteio entre policiais e bandidos tomou conta de sua rua. Não bastasse este susto, em seguida, ela pôde ver de camarote um amigo ser assassinado, em seu carro, por um desses bandidos.
Infelizmente, o jovem procurador assassinado naquela esquina virará um número para índices de violência na cidade e, uma capa de jornal sangrenta que já não choca, mas continua causando medo.
Em pensar que, há menos de um mês, parentes e amigos de um médico muito próximo à minha família, que também foi assassinado numa tentaiva de roubo, acompanhados por uma parte da população que anda revoltada com os absurdos acontecidos, fizeram uma caminhada pela paz nas ruas da cidade afim de alertar e pedir a ajuda do governo do Estado - que tem como obrigação prestar segurança - contra o que já está escancarado há anos em Belém: a violência gratuita.
Onde isso vai parar? Talvez, pra mim, pare no dia em que eu também for mais uma das muitas vítimas de uma terra sem direitos.
Isto é assustador, e está cada vez mais próximo de todos nós. É um problema de anos, décadas, que não será sanado imediatamente, pelo simples fato de que não é assim que se acaba com uma doença malígna que há anos está presente e, pior, vem sendo cultivada. Sim, porque o que não foi tratado, cultivado está.
Eu poderia ficar aqui falando por dias a fio de situações de violência que aconteceram bem próximas a mim, aqui em Belém e em todo estado, mas isso se tornaria repetitivo e mais angustiante.
Queria poder chegar aqui amanhã e escrever todo o oposto deste texto, e isso não ser uma ficção. Queria poder voltar a andar nas ruas e não ter medo.

"Que tempo bom, que não volta nunca mais..."

2 comentários:

  1. Não moro em Belém, mas o cenário descrito por vc se enquadra aqui no Rio também. Faço minhas as suas palavras.
    Rico

    ResponderExcluir